

Para quem trabalha
Os cuidados paliativos exigem um trabalho integrado entre profissionais de diferentes áreas, que unem suas competências para oferecer suporte abrangente ao paciente e sua família.
Nesta seção, você encontrará informações fundamentais para aprimorar sua prática clínica.
A Equipe Multiprofissional
Para que o trabalho em equipe flua da maneira mais positiva possível é vital que cada um de seus integrantes saiba aquilo que é da sua área de conhecimento e, além disso, saiba trabalhar com outros profissionais de diferentes áreas, visando entregar o melhor atendimento para o seu paciente e familiares.
Cada membro da equipe multiprofissional tem uma função específica e a responsabilidade de articular seu conhecimento e habilidades com os demais, visando um cuidado integral.
Enfermeiro
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É o profissional que realiza cuidado direto e indireto de pessoas em todas as áreas de assistência que demandam ações de enfermagem. Dentre as suas funções se encontram controle da dor, domínios de técnicas de curativos nas lesões, técnicas de comunicação terapêutica, medidas de conforto, avaliações sistemáticas dos sinais e sintomas, reforço das orientações clínicas.
São cuidados sensíveis e de educação.
Comunicando notícias difíceis
Notícias difíceis são informações que alteram significativamente a perspectiva do paciente ou de sua família sobre o futuro, como diagnósticos graves, mudanças no prognóstico ou limitações terapêuticas.
Por isso, transmitir notícias difíceis é um dos maiores desafios para os profissionais de cuidados paliativos.
Assim, uma comunicação assertiva é essencial para garantir uma assistência de qualidade e quando os profissionais de saúde desenvolvem habilidades básicas de comunicação, ajudam pacientes e familiares a compreenderem melhor o cenário clínico, promovendo segurança e fortalecendo a relação com a equipe de cuidado. Além disso, uma comunicação eficaz direciona a tomada de decisões compartilhada, assegurando que as escolhas dos pacientes estejam alinhadas com seus objetivos, valores e preferências, respeitando-os como indivíduos em sua singularidade. Logo, para que essa comunicação seja clara, acolhedora e respeitosa, é fundamental seguir um processo estruturado que inclua preparação, uma abordagem empática durante a conversa e um acompanhamento cuidadoso.
Antes de iniciar a conversa, é essencial entender o que o paciente já sabe sobre sua condição e o quanto deseja saber. Essa etapa permite ajustar o diálogo às necessidades individuais. Também é importante escolher um local apropriado, que seja reservado, tranquilo e sem interrupções, criando um ambiente acolhedor e seguro para o paciente e seus familiares.
✦ Prepare-se: Defina o objetivo da comunicação e reúna informações relevantes, como exames e opiniões de outras equipes.
✦ Escolha o Local: Encontre um ambiente reservado e sem interrupções.
✦ Entenda o Paciente: Pergunte o que ele já sabe e o quanto deseja saber.
O Protocolo SPIKES
O protocolo SPIKES é uma ferramenta estruturada que auxilia profissionais de saúde a conduzirem conversas difíceis com pacientes de forma empática e eficaz. Ele organiza a comunicação em seis passos principais, garantindo suporte emocional e clareza na transmissão de informações.
S
Setting up (Preparação)
Escolha um ambiente privado e acolhedor, mantenha a calma, esteja próximo e demonstre atenção.
P
Perception (Percepção)
Avalie o que o paciente já entende sobre sua condição usando perguntas abertas.
I
Invitation (Convite)
Identifique até que ponto o paciente deseja ser informado e respeite seus limites.
K
Knowledge (Informação)
Explique a situação com clareza e empatia, ajustando o vocabulário às necessidades do paciente.
E
Emotions (Emoções)
Acolha e respeite as reações emocionais do paciente, demonstrando compreensão e paciência.
S
Strategy and Summary (Estratégia e Resumo)
Reforce que o paciente não estará sozinho, apresentando um plano claro de cuidados ou tratamento.
Dicas para uma comunicação sensível
A comunicação é uma ferramenta poderosa no cuidado, mas, quando o assunto é lidar com momentos delicados ou desafiadores, ela exige ainda mais sensibilidade e habilidade. Uma abordagem sensível não se resume às palavras escolhidas, mas envolve a escuta ativa, a empatia e a capacidade de reconhecer as emoções do outro. Saber como conduzir essas conversas de forma acolhedora e respeitosa pode fazer toda a diferença no vínculo estabelecido e no impacto que deixamos.
Aqui, trazemos dicas práticas para fortalecer essa comunicação e promover relações mais humanas e significativas nos cuidados paliativos.
Encoraje o paciente a falar sobre sua condição:
É importante criar um ambiente onde o paciente se sinta confortável para expressar suas dúvidas e pensamentos. Perguntas abertas podem facilitar esse diálogo.
“Você gostaria de compartilhar o que entende sobre o seu quadro clínico e o que pode acontecer no futuro?”
“Podemos conversar detalhadamente sobre sua situação atual e discutir o que faz mais sentido para você em caso de piora?”
Verifique quem deve participar da conversa:
Alguns pacientes podem preferir a presença de familiares ou amigos. Pergunte de forma acolhedora.
"Com quem você gostaria de falar se precisarmos decidir algo sobre o seu tratamento em algum momento que você não possa comunicar seus desejos aos médicos?"
“Com quem você gostaria que eu falasse sobre o que está acontecendo?”
Melhore a compreensão do paciente:
Evite perguntas que possam ser respondidas apenas com “sim” ou “não” e opte por explorar o entendimento e sentimentos do paciente.
“Você poderia me explicar o que está entendendo sobre a sua situação? O que os médicos já explicaram? Quais são suas dúvidas?”
“Como você está lidando com tudo isso? Como está se sentindo?”
Retome informações importantes:
Certifique-se de que o paciente compreende o diagnóstico e os passos do tratamento.
"Você tem alguma dúvida sobre o diagnóstico que gostaria de esclarecer?"
“Gostaria de revisar juntos os próximos passos do seu tratamento, para que você se sinta seguro e tranquilo com o que está por vir.”
“Posso te ajudar a entender melhor o plano de tratamento ou algum ponto que tenha ficado confuso?”
Valide os sentimentos:
Reconheça as emoções do paciente de maneira empática e ofereça apoio.
“Percebi que você ficou nervoso ao falarmos sobre isso, o que é completamente compreensível. Gostaria de conversar mais sobre essa preocupação?"
“Sentir tristeza é algo muito natural nessa situação. Estamos aqui para garantir seu conforto e dar todo o suporte necessário.”
Investigue crenças e valores:
Para alinhar o cuidado às prioridades do paciente, explore seus valores e expectativas.
“O que é mais significativo para você neste momento da sua vida?”
“Há algo que você gostaria que levássemos em consideração ao cuidar de você?”
Dê suporte e segurança:
Reforce a ideia de que o paciente não está sozinho e que a equipe está comprometida em cuidar dele da melhor maneira possível.
“Estamos aqui para garantir que você receba o cuidado que respeite suas preferências e necessidades.”
Evite frases prejudiciais e substitua por abordagens mais empáticas:
Evite
“Eu sei como você está se sentindo.”
“Não há mais nada que possamos fazer.”
“Você quer ser intubado?”
Prefira
“Não consigo imaginar o que você está sentindo, mas é natural que esteja ansioso agora.”
“Embora o tratamento não esteja funcionando como esperávamos, vamos focar em mantê-lo sem dor e confortável.”
“Em caso de uma piora futura, o senhor já pensou em como seria ir para UTI e ser intubado?”
Atualizações e Guias práticos
Aqui, você encontra manuais, políticas e artigos que oferecem diretrizes baseadas em evidências para promover cuidados de qualidade, alinhar as práticas com as melhores abordagens e manter-se atualizado sobre os avanços e recomendações mais recentes na área de cuidados paliativos.
Política Nacional de Cuidados Paliativos
A Política Nacional de Cuidados Paliativos (PNCP), instituída em 2024 pelo Ministério da Saúde, visa fortalecer os cuidados paliativos no SUS, promovendo uma abordagem integrada e multiprofissional para pacientes com doenças graves e ameaçadoras à vida. Ela abrange todos os níveis de atenção à saúde, enfatizando a importância de um cuidado humanizado, que prioriza o alívio do sofrimento e a melhoria da qualidade de vida. A PNCP também reforça a educação contínua para os profissionais de saúde, garantindo que a prática de cuidados paliativos seja cada vez mais qualificada e acessível. É essencial que os profissionais de saúde se familiarizem com essa política para aprimorar sua atuação.
Manual de Cuidados Paliativos ANCP (Associação Nacional de Cuidados Paliativos)
Destinado aos profissionais de saúde, este manual oferece conhecimentos práticos e de fácil aplicação no dia a dia, refletindo a realidade brasileira com rigor científico.
A obra aborda desde os conceitos fundamentais e a organização de serviços até tópicos específicos como controle de sintomas, síndromes clínicas, procedimentos paliativos, e o papel da equipe multiprofissional. A edição dedica atenção ao planejamento do cuidado, à assistência domiciliar e a cuidados paliativos em pediatria, sedação paliativa, e pacientes com AIDS, também foca no fim da vida, abordando luto e espiritualidade.
Manual de Cuidados Paliativos (2ª Edição revisada e ampliada)
Elaborado como parte do projeto "Cuidados Paliativos no SUS", desenvolvido por meio de uma parceria entre o Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e o Hospital Sírio-Libanês (HSL). Este manual busca ser uma ferramenta prática e objetiva, compatível com a realidade do SUS, colaborando para difundir o conhecimento de cuidados paliativos de maneira acessível e oferece subsídios teóricos essenciais para que os profissionais de saúde possam aplicar a abordagem paliativa de forma ética e humanizada, contribuindo para uma assistência de qualidade.
Cuidados paliativos e espiritualidade: revisão integrativa da literatura
Este artigo apresenta uma revisão integrativa da literatura sobre a relação entre cuidados paliativos e espiritualidade, baseada em artigos internacionais. A pesquisa identificou quatro temas principais: o significado da espiritualidade nos cuidados paliativos, a assistência espiritual, o impacto da espiritualidade no alívio da dor e sintomas, e os instrumentos de avaliação da dimensão espiritual. A conclusão destaca a importância da espiritualidade no cuidado de pacientes paliativos e a necessidade de mais estudos para aprofundar o conhecimento sobre o tema.
O fenômeno da conspiração do silêncio em pacientes em cuidados paliativos: uma revisão integrativa
Este artigo investiga o fenômeno da "conspiração do silêncio" vivenciado por pacientes em cuidados paliativos, seus familiares e profissionais de saúde. A pesquisa, baseada em uma revisão integrativa, revela que a comunicação ineficaz contribui para a falta de informações sobre diagnóstico e prognóstico, gerando sentimentos de medo, angústia e ansiedade em todos os envolvidos. O estudo destaca a importância de ouvir pacientes e familiares para melhorar a comunicação sobre a terminalidade da vida e promover a autonomia do paciente ao lidar com o processo de fim de vida.
Conforto em cuidados paliativos: O saber-fazer do enfermeiro no Hospital Geral
Este artigo explora a importância dos cuidados de enfermagem voltados para o conforto de pacientes em cuidados paliativos, com foco na abordagem física, como o alívio da dor e outros sintomas. A pesquisa, conduzida com enfermeiros de um hospital no Rio de Janeiro, revela como o conforto físico é uma prioridade nas práticas de enfermagem, embora aspectos psicológicos, espirituais e sociais também façam parte do cuidado, mas não sejam tão abordados na prática. A leitura deste artigo proporciona uma reflexão importante sobre a abrangência e os desafios na assistência paliativa, enriquecendo a compreensão do papel do enfermeiro nesse contexto.
Recursos educacionais
Para oferecer um cuidado de excelência em cuidados paliativos, é essencial o desenvolvimento contínuo das habilidades necessárias para lidar com as complexidades desse tipo de assistência.
Estes recursos te ajudarão a fortalecer a prática clínica e a promover uma abordagem mais integrada e sensível ao sofrimento dos pacientes e suas famílias.
Referências
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